Organizações denunciam assassinato de centenas de civis de minoria alauíta por forças de segurança na Síria

Organizações denunciam assassinato de centenas de civis de minoria alauíta por forças de segurança na Síria

Os alauítas são uma minoria xiita que apoiava o ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro. O grupo que assumiu o poder é sunita e é acusado de promover uma ‘limpeza étnica sistemática’, segundo a Federação de Alauítas na Europa. Organizações denunciam massacre contra alauítas na Síria por forças do governo
Reprodução/Jornal Nacional
Organizações de direitos humanos estão denunciando o assassinato de centenas de civis da minoria alauíta pelas forças de segurança do novo governo da Síria. A Federação de Aluítas na Europa diz que há “limpeza étnica sistemática” na região.
Os confrontos começaram na quinta-feira (6). Segundo o governo sírio, o Exército fazia uma operação na região de Latakia, quando teria sido atacado.
Ainda segundo o governo sírio, a ofensiva seria um levante de forças ligadas ao antigo regime do ditador Bashar al-Assad. Dezesseis militares morreram.
O governo afirma que respondeu com o envio maciço de tropas.
Os alauítas negam essa versão do governo, dizendo que têm sido alvo de perseguição dos sunitas radicais que tomaram o poder em dezembro passado e que são vistos por esses radicais como “hereges”.
Segundo moradores ouvidos de forma anônima pela agência de notícias Associated Press, civis alauítas têm sido executados, e as casas, saqueadas e incendiadas pelas forças do governo.
Ali Sheha, um morador de 57 anos, falou abertamente sobre o agravamento da situação e contou que fugiu da região na sexta-feira (7) com a família. Ele relatou que mais de 20 vizinhos e amigos foram assassinados. “Foi muito ruim”, diz ele,. “Havia corpos pelas ruas”.
Imagens obtidas pela agência Reuters mostram dezenas de corpos jogados na rua em Latakia.
O Observatório de Direitos Humanos da Síria diz que mais de 1.000 pessoas já morreram desde quinta-feira (6), entre elas mais de 750 civis.
A Síria é majoritariamente sunita, mas foi governado por cinco décadas pela família Assad, que segue a linha alauíta.
Bashar al-Assad ficou no poder por 24 anos até ser deposto por integrantes do HTS, um dos grupos que lutavam na longa guerra civil do país.
Na sexta, o ex-comandante do HTS e hoje presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, disse: “Vamos continuar a perseguir os remanescentes do regime que querem continuar a opressão e tirania, aqueles que cometeram crimes contra a população e amaçam a segurança e a paz. Eles serão submetidos a julgamento”.
A escalada dos confrontos preocupa a comunidade internacional. A Rússia e a Turquia alertaram que a troca de agressões ameaça a estabilidade de toda a região. A Alemanha pediu que os dois lados evitem uma espiral de violência.
Em nota, o enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Síria, Geir Pederson, disse que está extremamente preocupado com os combates e fez um apelo: “Peço que todas as partes evitem ações que possam inflamar as tensões, escalar o conflito, exacerbar o sofrimento das comunidades atingidas, desestabilizar a síria e a transição política confiável e inclusiva”.
A federação de alauitas na Europa também se manifestou por meio de uma carta.
“Atualmente, a Síria passa por uma limpeza étnica sistemática, mas o mundo permanece em silêncio. Não se trata mais de uma guerra civil – trata-se do extermínio deliberado de uma minoria religiosa. Hoje, a história está se repetindo, desta vez contra os alauítas”.
A carta afirmou ainda que os massacres contra os alauitas estão documentados, existem imagens, relatos de testemunhas e evidências, e o mundo não pode dizer que não sabia. Diz ainda que os alauitas não são Bashar al-Assad, não são uma facção armada, são uma comunidade religiosa ancestral que busca viver em paz. O mundo ainda tem uma chanc. É preciso agir agora, antes que seja tarde demais.
A instabilidade na Síria é uma péssima notícia para o governo de Donald Trump, que tenta mediar diálogos para acabar com duas guerras que já estavam em curso quando ele chegou à Casa Branca: o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, e entre a Rússia e a Ucrânia. Além disso, mais uma guerra no Oriente Médio pode desestabilizar ainda mais a região.

JORNALCONECTADO