Katy Perry diz que é caro levar ‘todo o palco’ para América do Sul; entenda por que isso acontece


Entenda por que artistas gringos trazem shows mais simples ao Brasil
Em um show em Buenos Aires na última terça (9), Katy Perry disse que foi aconselhada a não vir para a América do Sul porque seria “muito caro”. A cantora está fazendo uma série de apresentações no Chile, Argentina e vem ao Brasil, mas trouxe uma estrutura mais enxuta da “Lifetimes Tour” para o continente.
“‘Katy, você sabe… artistas pop não vão para a América do Sul. É muito caro. Você não pode trazer todo o seu palco, você vai perder dinheiro’. E eu disse: ‘De que isso importa? Meus maiores fãs estão na América do Sul'”, afirmou.
A artista foi criticada por alguns fãs por trazer um show mais simples para o continente, já que a estrutura original era elaborada, com voos pela arena e vários telões. Mas o caso de Katy não é isolado: questões de logística, infraestrutura e até legislação podem influenciar essa decisão. Entenda por que artistas gringos trazem shows mais simples para o Brasil:
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Como isso é definido?
O g1 ouviu profissionais do mercado de shows, que explicaram como funciona a negociação da estrutura de shows. Segundo eles:
Quem define a estrutura trazida, geralmente, é o artista, e isso sai do bolso dele;
Os aparatos que vêm para cá e quais serão fornecidos são previstos em contrato;
Variáveis como o retorno financeiro, o transporte, viabilidade técnica, proposta artística – tudo isso influencia a decisão;
Um problema no Brasil e na América do Sul? A distância… e as estradas;
Há alternativas para garantir a viabilidade do show com opções mais enxutas;
Mas geralmente, se não for possível trazer uma parte importante da estrutura, a tendência é que os artistas (e as promotoras) decidam não trazer o show.
É caro trazer um show para cá?
Katy Perry se apresenta no Rock in Rio 2024
Stephanie Rodrigues/g1
Os profissionais entrevistados pelo g1 afirmaram que, na maior parte das vezes, cabe ao artista decidir a estrutura que será trazida ao Brasil.
Um entrevistado de uma produtora internacional corrobora com a fala de Katy e argumenta que a logística deixa tudo mais caro. “Estamos longe de todo mundo. É um custo alto chegar ao continente. E depois, quando chegam aqui, as estradas são raras ou ruins”, explica. Por isso, trazer aparatos dos shows à América do Sul – e transportá-los entre diferentes lugares – é uma operação complexa e cara.
Além dos gastos, há uma questão de tempo. “Dependendo dos itens que artistas do pop querem trazer, precisa ser de navio, algo demorado, algo caro, que não vale a pena”, diz outro entrevistado. Isso dificulta a agenda da turnê, e pode até impossibilitar o show.
Essa decisão também depende do investimento (ou prejuízo) que o artista está disposto a ter. “Ele define o que ele quer trazer, o que ele quer produzir localmente. De certa maneira, sai do custo dele. Sai do artista, e entra no resultado do show.”
Não é um cálculo tão simples: do valor do show, é preciso tirar impostos, salário de agentes e outras despesas. A infraestrutura de todo o show também é “paga” pelo artista.
Pode ser que não compense para o artista e que ele fique no prejuízo ao trazer tudo – e aí, pode até deixar de vir ao Brasil, já que isso afeta quase inteiramente o show planejado. Por outro lado, ele pode optar por trazer a estrutura em uma versão mais enxuta, só para não deixar de vir. É o caso de Katy.
Estrutura da ‘Lifetimes Tour’ na América do Norte (esquerda) e na América do Sul (direita)
Reprodução/X
E em festivais?
Se para shows solo já é difícil, trazer a estrutura completa para festivais é praticamente impossível. Muitas vezes, é justamente a economia na produção que compensa a vinda, já que o evento fornece sua própria estrutura “básica”.
“Quando o festival faz uma oferta para um determinado artista, já envia o rider, ou seja, aquilo que o festival oferece. Se o artista quiser algo além do que ele oferece, inicia-se um diálogo para ver o que dá para atender e quem será responsável por isso. No fim, todos tem que se adaptar um pouco”, conta Marcelo Beraldo, diretor artístico do Lollapalooza.
Toda a estrutura oferecida é negociada dependendo do tamanho do artista. “Se ele diz que precisa de um pouco mais disso ou daquilo, a gente vai tentando atender dentro do possível. E eu digo dentro do possível porque tem coisas que nem têm na América do Sul. Nesse caso, o artista pode arranjar ou abrir mão, e o festival também pode ir atrás, tudo depende dessa negociação”.
Segundo Beraldo, geralmente, a regra é que a estrutura do headliner não pode ser utilizada por outros artistas do mesmo palco. “As estruturas extras, em geral, são desenhadas e montadas especificamente para determinado show”, explica.
Katy Perry se apresenta no Rock in Rio 2024
Stephanie Rodrigues/g1
O Brasil compensa
Especialistas argumentam que, apesar de todas as questões de logística, às vezes artistas decidem investir no Brasil mesmo podendo sair no prejuízo. Afinal, o show também é uma ferramenta de marketing – especialmente eficaz no caso do nosso país.
Nos últimos anos, o país passou a ser reconhecido como uma máquina de engajamento e favoreceu o investimento em grandes shows no Brasil. Mesmo caso não renda lucro, um show bem feito por aqui rende boa publicidade nas redes e fortalece a relação dos artistas com seus fãs.
Como a própria Katy disse, ela tem uma base leal de fãs na América do Sul, que a apoiou mesmo durante momentos complicados na carreira. Por isso, valorizar esse público é um movimento essencial para ela.
“Nosso negócio é hoje em dia completamente internacional. A América do Sul já entrou dentro do que é a estrada de turnês. E a América do Sul em geral, e obviamente Brasil por seu tamanho, proporcionalmente gera muito mais streams em Spotify que outros mercados. Então, é fundamental para qualquer artista vir para cá”, conta um produtor de shows.