Corpo de Arlindo Cruz será velado neste sábado na quadra do Império Serrano, em cerimônia ‘em formato de gurufim’

Corpo de Arlindo Cruz será velado neste sábado na quadra do Império Serrano, em cerimônia ‘em formato de gurufim’

Arlindo Cruz, cantor e compositor, morre aos 66 anos no Rio
O corpo de Arlindo Cruz, que morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, será velado neste sábado (9) às 18h, na quadra do Império Serrano, em Madureira, na Zona Norte do Rio.
A agremiação informou que o velório do cantor será realizado, em formato de gurufim, aberto ao público. A homenagem se estenderá até às 10h da manhã de domingo (10).
Tradição trazida para o Brasil por africanos escravizados, o gurufim é uma cerimônia funerária com música e bebida, usadas para aliviar o luto.
Segundo familiares, haverá também um momento restrito aos mais próximos.
O sepultamento ocorrerá no domingo, às 11h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.
Falência múltipla dos órgãos
A morte foi confirmada no início da tarde pela mulher do artista, Babi Cruz. Ele estava internado desde abril no hospital Barra D’Or, na Zona Oeste do Rio. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.
Arlindo vinha com a saúde debilitada desde 2017, quando sofreu um acidente vascular cerebral hemorrágico. Na época, passou mal em casa e ficou quase um ano e meio internado. Desde então, ele lidava com as sequelas da doença e passou por várias internações. O artista não se apresentava mais.
A família de Arlindo Cruz divulgou um comunicado de luto após a morte:
“Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho. Sua voz, suas composições e seu sorriso permanecerão vivos na memória e no coração de milhões de admiradores”.
“Agradecemos profundamente todas as mensagens de carinho, orações e gestos de apoio recebidos ao longo de sua trajetória e, especialmente, neste momento de despedida. Arlindo parte deixando um legado imenso para a cultura brasileira e um exemplo de força, humildade e paixão pela arte. Que sua música continue ecoando e inspirando as próximas gerações, como sempre foi seu desejo”, acrescenta o texto.
‘O sambista perfeito’
Nascido no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1958, Arlindo Domingos da Cruz Filho era um dos cantores de samba mais conhecidos no Brasil.
Ele era apelidado por admiradores e amigos de “o sambista perfeito”, em referência a uma de suas composições, em parceria com Nei Lopes. O apelido acabou virando título de uma biografia lançada este ano.
Além de escrever e cantar, Arlindo ficou famoso por tocar cavaquinho e banjo. Ganhou o primeiro cavaquinho aos 7 anos. Aos 12, começou a tocar músicas “de ouvido” e aprendeu violão ao lado do irmão Acyr Marques.
Candeia: ‘Padrinho musical’
Ainda jovem, estudou teoria musical e violão clássico na escola Flor do Méier. Foi quando passou a atuar como músico profissional, em rodas de samba com vários artistas, incluindo um ícone do estilo, Candeia, uma espécie de “padrinho musical”.
As primeiras gravações em estúdio feitas por Arlindo foram com ajuda de Candeia. Entre elas, está o primeiro LP, “Roda de Samba”, depois relançado em CD.
Arlindo Cruz no ‘Altas Horas’, da TV Globo
Carol Caminha/Globo
Ao completar 15 anos, foi para Barbacena (MG). Por lá, estudou na escola preparatória de Cadetes do Ar. Em Minas Gerais, ganhou festivais em Barbacena e Poços de Caldas.
Roda de samba do Cacique de Ramos
Quando voltou para o Rio, passou a frequentar a roda de samba do Cacique de Ramos. Nela, tocou com Jorge Aragão, Beth Carvalho e Almir Guineto. Foi lá que virou parceiro de duas então revelações do samba: Zeca Pagodinho e Sombrinha.
Pouco tempo depois de passar a fazer parte da famosa roda de samba, teve 12 músicas gravadas por outros intérpretes. A primeira foi “Lição de Malandragem”. Na sequência, vieram “Grande Erro” (Beth Carvalho) e “Novo Amor” (Alcione).
Fundo de Quintal
Arlindo Cruz, no Fundo de Quintal
Nem de Tal/Estadão Conteúdo
Depois de chamar atenção como compositor, teve então sua maior chance como intérprete. Substituiu Jorge Aragão, quando ele saiu do Fundo de Quintal. Ficou 12 anos na banda e gravou sucessos como “Seja sambista também”, “Só Pra Contrariar”, “Castelo Cera”, “O Mapa da Mina” e “Primeira Dama”. Saiu do grupo em 1993. Fez dupla com Sombrinha antes de iniciar carreira solo.
Zeca Pagodinho e Beth Carvalho foram dois que mais gravaram canções dele. Zeca gravou “Bagaço de Laranja”, “Casal Sem Vergonha”, “Dor de Amor”, “Quando eu te vi Chorando”. Beth deu voz a “Jiló com Pimenta”, “Partido Alto Mora no meu Coração” e “A Sete Chaves”.
Mais de 550 sambas gravados
Segundo o site oficial do sambista, Arlindo Cruz tem mais de 550 músicas gravadas por vários artistas. Nos anos 90, ele se dedicou ainda às eliminatórias de sambas enredos do Império Serrano, sua escola de coração.
A primeira vitória do compositor com um enredo na agremiação foi em 1996, no enredo “E verás que um filho teu não foge à luta”. Emplacou ainda um samba também no carnaval seguinte, em 1999. Depois, também teve sambas escolhidos em 2001, 2003, 2006 e 2007. Ele foi enredo da escola em 2023.
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Em 2008, resolveu mudar de escola e escreveu o samba da Grande Rio no enredo “Do Verde de Coarí Vem Meu Gás, Sapucaí!”.
Em sua carreira solo, Arlindo seguiu lançando CDs e DVDs. Em 2009, saiu o DVD “Arlindo Cruz MTV Ao Vivo”. Em 2011, lançou o CD “Batuques e Romances”.
Em 2012, gravou mais um CD e DVD ao vivo, “Batuques do Meu Lugar”. Neles, inclui músicas inéditas e participações de Alcione, Caetano Veloso e Zeca Pagodinho.
Em uma de suas últimas aparições na TV, no programa “É Gol!!!”, da SporTV, no fim de fevereiro, cantou sucessos da carreira e falou sobre a paixão pelo Flamengo, seu time do coração, na véspera de um clássico contra o Vasco.
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